sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Não é só um problema nosso !



Esta semana partcipei do XII Coloquio Panamericano de Investigación en Enfermería Florianópolis, dentre as apresentações e posteres apresentados me deparei com este trabalho e pensei, " Será que ele foi feito na nossa UER", pois bem, não foi, ele é parte de uma dissertação de mestrada de uma aluna da UFRG ( Universidade Federal do Rio Grande do Sul) quem quiser ler a dissertação na integra acesse
http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/13670/000652409.pdf?sequence=1


É interessante saber que este problema não é só nosso. Leiam abaixo o resumo do resumo.

CONSEQUENCIAS DA SUPERLOTAÇÃO NO TRABALHO NA UNIDADE
HOSPITALAR DE URGÊNCIA1
Maria Alice Dias da Silva Lima2; Estela Regina Garlet3; Giselda Quintana Marques4

Introdução: A superlotação dos serviços hospitalares de urgência é considerada um
fenômeno mundial.No Brasil, a maioria das unidades de urgência funciona com taxa de ocupação de leitos superior a 100%, número insuficiente de profissionais, sem treinamento ou reciclagem, demandas excessivas e, por vezes, inadequadas, com financiamento e gerenciamento precário, sem leitos de retaguarda e sem planejamento efetivo, configurando uma situação de constante superlotação.Foram identificadas como principais causas que induzem à superlotação: falta de leitos de internação, ineficiências da atenção básica e ausência de rede.A procura excessiva por atendimento nas unidades de urgência traz conseqüências negativas para o trabalho das equipes que atuam na unidade pela falta de espaço físico, sobrecarga dos profissionais, dos demais serviços do hospital e,conseqüentemente, piora na qualidade do atendimento prestado ao usuário. Apesar dos avanços em relação à definição de conceitos e incorporação de novas tecnologias que objetivam a organização do atendimento em rede, o sistema brasileiro de atenção as urgências ainda apresenta muitas fragilidades. Objetivo: Analisar as consequencias da superlotação no trabalho da equipe de saúde que atua em uma unidade hospitalar de urgência. Metodologia: Trata-se de uma pesquisa qualitativa cujo desenho metodológico é o estudo de caso, que permite um aprofundamento da unidade a ser estudada.4 O espaço de pesquisa foi a unidade de urgência de um hospital de ensino público, localizada em um município do interior do estado do Rio Grande do Sul. A coleta de dados foi realizada por meio de observação e entrevista semi-estruturada. Os sujeitos de estudo foram os profissionais que atuavam na equipe de saúde da referida unidade no período de junho a setembro de 2007. Participaram do
estudo 29 sujeitos, sendo sete enfermeiros, sete técnicos de enfermagem, um bolsista do Curso de Enfermagem, dois médicos plantonistas da clínica médica, um médico residente, dois doutorandos do Curso de Medicina, uma secretária, uma auxiliar de serviços gerais, duas recepcionistas, dois vigilantes, uma nutricionista, uma fisioterapeuta e a enfermeira coordenadora administrativa da unidade. Resultados e discussão: A constante superlotação vivenciada pela equipe de saúde que atuava na unidade hospitalar de urgência interferia na realização do trabalho, impedindo que este fosse realizado com a qualidade esperada. Essa interferência era expressa no cotidiano do trabalho da equipe, por meio de condições restritivas de falta de espaço físico, equipamentos, materiais, pessoal, baixa qualidade da assistência prestada, prolongado tempo de espera pelo atendimento, atraso do diagnóstico e tratamento das enfermidades. No Rio de Janeiro também foi constatada a tendência restritiva como conseqüência da superlotação. Na unidade, as condições de espaço
físico e as acomodações dos pacientes retratavam, de forma visual, a realidade vivenciada pela equipe que atuava em um ambiente superlotado. Os leitos destinados às observações permaneciam ocupados por pacientes que aguardavam leitos nas unidades de internação do hospital. Muitos pacientes permaneciam, junto aos acompanhantes, em macas e cadeiras de rodas que ficavam espalhadas pelos corredores. A falta de espaço físico parecia dificultar não só o atendimento como também as relações entre trabalhador e usuário. Assim, os profissionais de saúde reconheciam as situações desfavoráveis de trabalho que estavam submetidos, sem condições de oferecer aos usuários um suporte adequado e os usuários demonstravam insatisfação com o atendimento, enfrentando longos períodos de espera para diagnóstico ou tratamento, ficando acomodados em macas ou cadeiras de rodas. A dificuldade para obter leitos de internação prolongava o tempo de permanência na sala de observação, que podia se estender por horas ou dias, algumas vezes até a alta do paciente para o domicílio. A
falta de equipamentos e materiais para a realização do trabalho, embora não fosse uma
constante, também foi identificada no cotidiano do trabalho. A deficiência de recursos materiais em um serviço de urgência é inaceitável, e configura condições impróprias para o trabalho que ameaça à saúde dos profissionais. A falta de recursos humanos foi mais uma dificuldade destacada pelos trabalhadores. Acreditavam que para a existência de uma assistência de qualidade haveria a necessidade de um número proporcional de profissionais para o de pacientes. A unidade atendia usuários com problemas graves de saúde, bem como aqueles que procuravam a unidade para consulta médica, procedimentos, exames, medicações, dentre outros, o que agravava a sobrecarga de ações aos profissionais. A insatisfação com a carga de trabalho, apontada pela maioria dos entrevistados relacionava-se a com o tamanho e qualificação da equipe, mas também com o estresse inerente ao trabalho em urgência, agravado pelas condições insatisfatórias de saúde da população com a qual esses profissionais lidavam. A tensão e a insatisfação que os profissionais demonstravam, além do sentimento de impotência e desmotivação por enfrentarem pesadas jornadas de trabalho eram inegáveis, ao atender um número de pacientes muito além da capacidade de profissionais disponíveis.5 Na visão dos profissionais a constante superlotação agravava o ambiente já tenso na unidade hospitalar de urgência especialmente quando os usuários não se encontravam em situação de urgência. Muitos usuários com necessidades não-urgentes vinham à unidade porque não tinham outros recursos. Por sua vez, a Instituição não tinha interação com o sistema ambulatorial, a ponto de garantir que o paciente fosse atendido nos dias subsequentes ao atendimento realizado na urgência. Essas dificuldades refletiam na qualidade do atendimento prestado ao usuário e na satisfação do trabalhador com seu trabalho. Diante de tais circunstâncias, pode-se constatar a necessidade do gerenciamento das consequencias da superlotação nas unidades hospitalares de urgência, especialmente o redirecionamento dos usuários que apresentam necessidades não-urgentes e monitoramento do tempo de espera por atendimento, diagnóstico e tratamento dos usuários que permanecem na unidade. Uma alternativa possível seria a discussão do serviço com a rede, a fim de integrar esses pacientes às outras possíveis portas de entrada do Sistema. Assim sendo, é fundamental estabelecer melhor organização do atendimento aos usuários que procuram os serviços hospitalares de urgência, por meio da definição de responsabilidades, na busca da integralidade das ações e dos serviços. Considerações finais: A análise das conseqüências da superlotação em uma unidade hospitalar de urgência evidenciou que havia interferência na realização do trabalho da equipe, impedindo que fosse realizado com a qualidade esperada. Essa interferência era expressa no cotidiano do trabalho da equipe de saúde por condições restritivas de falta de espaço físico, equipamentos, materiais, pessoal, baixa qualidade da assistência prestada, prolongado tempo de espera pelo atendimento e atraso no diagnóstico e tratamento das enfermidades. O serviço hospitalar de urgência continuava sendo um desafio para o Sistema de Saúde por ser complexo em termos de necessidades tecnológicas, por exigir um processo
de trabalho árduo e por refletir as precárias condições sociais da população atendida e da precariedade das condições de trabalho dos trabalhadores de saúde. A organização da rede, a formação de recursos humanos e o financiamento compatível com as atribuições e responsabilidades de cada serviço é fundamental para a resolutividade do que é ofertado à população.

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