A vasopressina vem sendo utilizada na prática clínica há mais de cinco décadas, principalmente no tratamento de varizes hemorrágicas e diabete insípidus. Estudos experimentais e clínicos têm demonstrado benefícios com o uso de vasopressina durante a parada cardíaca e no período pós-ressuscitação. Na fibrilação ventricular (FV) resistente à desfibrilação, a vasopressina pode melhorar o fluxo sangüíneo aos órgãos vitais e cérebro mais do que a adrenalina.2 Em pacientes com choque séptico existem diferentes argumentos que dão suporte à sua utilização. Os níveis de vasopressina nestes pacientes são inadequadamente baixos por alteração na liberação do hormônio, de origem multifatorial, associada à depleção dos estoques de vasopressina na hipófise devido à intensa liberação nas fases precoces do choque, disfunção autonômica, elevação dos níveis de noradrenalina com efeito inibitório central na liberação de vasopressina, e aumento da produção de óxido nítrico endotelial na hipófise posterior, provocando downregulation na liberação do hormônio.1 Adicionalmente, os pacientes com choque séptico são muito sensíveis à infusão de baixas doses de vasopressina, a qual exerce seu efeito vasoconstritor pela interação com receptores não-adrenérgicos. Desta forma, sua ação não é afetada pela downregulation de receptores beta e alfa adrenérgicos, comumente observada em pacientes com choque séptico. Ainda, aumenta a sensibilidade vascular a outros agentes vasopressores e incrementa a liberação de cortisol, cujos níveis encontram-se inadequados em pacientes com sepse, denominada insuficiência adrenal relativa, distúrbio preditor de mortalidade.4 Assim, no choque vasoplégico refratário a vasopressores adrenérgicos, a infusão contínua de vasopressina pode ser promissora no restabelecimento da perfusão tecidual, reduzindo as disfunções orgânicas e quiçá a mortalidade. Estudos prospectivos são fundamentais para testar esta hipótese.
ALEJANDRA GALLARDO GARRIDO
LUIZ FRANCISCO POLI DE FIGUEIREDO
Texto extraído da Revista da Associação Médica Brasileira. Mais informações click http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-42302001000400006
Referências
1. Holmes CL, Patel BMP, Russell JA, Walley KR. Physiology of vasopressin relevant to management of septic shock. Chest 2001; 120: 989-1002.
2. Babbs CF, Berg RA, Kette F, et al. Use of pressors in the treatment of cardiac arrest. Ann Emerg Med 2001; 37(4 Suppl): S152-62.
3. Landry DW, Levin HR, Gallant EM, et al. Vasopressin deficiency contributes to the vasodilation of septic shock. Circulation 1997; 95: 1122-5.
4. Briegel J, Forst H, Haller M, et al. Stress doses of hydrocortisone reverse hyperdynamic septic shock: a prospective, randomized, double-blind, single-center study. Crit Care Med. 1999; 27: 723-32.
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